terça-feira, 14 de setembro de 2010

VOU EXPUGAR PARA SEMPRE DA MINHA VIDA

Aqui vou mexer com mais gente que está debaixo da terra, mas é preciso,preciso desesperadamente da liberdade . Acho que sou uma pessoa abençoada, pois nesta vida vivi coisas que jamais ousaria pensar. Não sou melhor que ninguém, mas que existe algo especial na minha existência, isso existe. Talvez Deus queira abreviar as minhas encarnações me permitindo viver situações exóticas nesta vida, para que eu me aprimore ou então em outras vidas eu fui um terror. A primeira coisa que me fez diferente (numa determinada situação) foi ter sido obediente. Perdi meu pai, ele com 33 anos, quando eu tinha seis anos. Morreu vítima da tuberculose que ele pegou trabalhando, numa circunstância especial. Digo especial porque ele era funcionário do Ministério da Guerra, no material de Intendência e durante a II guerra , quando os brasileiros chegaram à Cicília-Itália , o povo não tinha mais roupas. O Brasil vendo aquilo resolveu mandar com urgência roupas e calçados para o povo italiano, não foram apenas donativos, o governo pegava nas lojas também. Essas roupas eram enviadas ao exercito e lá separadas e embaladas para serem entregues, iam de navio. O trabalho era urgente, pessoas nuas, desagasalhadas e o pessoal do material de intendência não media esforços no trabalho, não eram compelidos a trabalhar mais por ninguém, apenas o faziam por solidariedade. Depois de trabalhar dias e dias, sem alimentação adequada, sem descanso, esses funcionários já debilitados pelo inverno da cidade de São Paulo, dormiam sobre fardas e materiais trazidos da Itália. Não se preocuparam, ali naquele material vindo da Itália, da frente de batalha ,estava o bacilo, todos ficaram tuberculosos Meu pai ficou aparentemente curado, foi aposentado e casou-se com mamãe, a doença ainda não tinha cura e ele era estigmatizado. Ela sofreu enorme pressão para não se casar com ele, mas o amor venceu. Só que papai, são-paulino fanático, jogador de futebol, jovem, alegre, pé de valsa, acho que esquecia ou queria esquecer-se do que passou e descuidou-se, resultado: a tuberculose o ataca novamente, eu tinha nove meses e ele foi para o Sanatório, primeiro em Sorocaba, depois São José dos Campos. Lembro-me dele com carinho, quando ele vinha nos visitar , ficava num quartinho no porão , quando ia embora punha os talheres que usou em uma lata , colocava querosene e os queimava, depois os colocava no lixo, mas estavam impossibilitados para o uso. O prato e copo eram quebrados. Lembro-me dele levando-me passear segurando na mão de uma boneca, entre nós dois a boneca. Lembro-me de pedir colo e ele me colocar nos joelhos, eu voltada para frente, não era assim que eu queria... Lembro-me das lágrimas nos olhos dele espelhando as minhas. Eu não entendia e fazia birra. Minha mãe ficou viúva aos 30 anos, ela era linda. Havia nessa época um preconceito imenso, a tuberculose ainda não tinha cura, e o simples fato de ser filha de um tuberculoso eu poderia sofrer discriminações. Desde os quatro anos estudava no Santa Escolástica,minha mãe trabalhava na fábrica de tecidos,para custear a escola,já que a pensão do papai não permitiria esse luxo,mas era um sonho dele que eu tivesse a mesma educação de sua mãe,que eu fosse professora. Então minha mãe, após a morte de meu pai,com a melhor das intenções, pediu que quando perguntassem pelo meu pai que eu dissesse: morreu. E não comentasse mais nada. Assim fiz. Sem questionar, na verdade eu não enxergava preconceito nos outros, sequer imaginava existir tal coisa. Essa obediência custou caro. Meu primeiro amor, meu primeiro namorado, era filho de uma família que me conhecia desde os nove anos, freqüentei a casa dele como coleguinha de suas irmãs e na adolescência o vi com novos olhos. Foi um namoro difícil de descrever, todos sabiam, mas namorávamos escondido da família dele. Encontrávamo-nos às escondidas, na frente da família era como se nada acontecesse, eu tinha treze anos ele dezoito. Minha vida era uma eterna festa de aniversário, de tanto bolo que eu levava, não sabia o motivo. Foram dois anos e meio, terminávamos e voltávamos, eu não conseguia entender o que acontecia, minha mãe já havia percebido, mas não me falou. Então cansei de ser deixada de lado, cansei de viver um amor puro às escondidas, quando tantos queriam me namorar. Jamais podia imaginar o motivo. Descobri através de uma amiga, anos depois e me causou além de uma tristeza profunda, uma depressão que precisei de terapia. Aquela família a quem eu tanto amava e respeitava baseada na informação mínima sobre meu pai, e olhando para minha irmã cujo biótipo é o do meu pai e o meu é o da minha mãe, tinham a certeza de que eu era filha de mãe solteira e que ainda tinha outra irmã de pai diferente. Por isso boicotavam o nosso namoro, apesar de “gostarem” de mim, temiam que eu engravidasse e quisesse dar o golpe da barriga. Meu Deus, isto é que foi uma tortura para mim, meu namoro era puro, apesar dos meus hormônios estarem em ebulição e eu o desejasse como o náufrago deseja a terra firme, por respeito e fidelidade aos pais dele e a minha mãe, jamais fizemos nada, sabíamos que eles temiam isto. Foi algo marcante, tão marcante que influenciou o resto da minha vida, meu casamento capengava, mas ao descobrir que por não ter pai fui julgada e condenada a não viver um grande amor, jurei para mim mesma que jamais me separaria, antes da minha filha estar casada. Parece tolice, para mim não era. Cumpri o prometido. Minha filha casou-se (e muito bem) aos 29 anos. Aí pude tomar a decisão de mudar minha vida. Não corria o risco de que por preconceito minha filha fosse estigmatizada e impedida de viver o amor em sua plenitude. Sofri, fiz terapia, trabalhei minha cabeça por muitos anos, achei que não guardava mágoa para com ninguém. Doce Ilusão!!! Quando você mexe no baú das recordações elas vêm mais fortes e cortantes então decidi republicar. Doa a que4m doer , ele não vai ler com certeza a soberba o impediria ,mas o prazer que tenho é de dizer que nos meus dois casamentos,fui respeitada pela inteligência e integridade,nunca vivi às custas de ninguém, tenho nome limpo , respeitado e crédito na praça. Aquí está a diferença. Mesmo morando na mesma cidade eu o vi de longe três vezes nestes últimos 41 anos. Desejo a ele e a família o bem, a dor me ensinou uma grande lição. PRECONCEITO NÃO! Mas para deixar bem claro que eu tinha pai e mãe, vou postar fotos, do casamento, outra em que estou com os dois e minha irmã maravilhosa está no ventre da minha mãe. Colocarei também uma foto da minha mãe e você dirão era preconceito ou pura dor de cotovelo? Dona Maria era muito mais bonita.Trabalhadora e DIGNA. E agora José? Demoro???

Minha vida é exótica , mas estou começando a destrinchar os nós do meu passado.Quero e vou ser livre.

Terça-feira, 14 de setembro de 2010

Já postei este texto e estou repostando,pois sinto necessidade disto.Além do trauma abaixo referido, tinha mais um que me incomodava e muito.
Como disse estudei no melhor colégio de Sorocaba ea cho que foi uma grande sandice o que fizeram comigo.Nunca misturem alhos com bugalhos.
Eu era de família simples e vivia no meio da classe A da cidade ainda pequena, resultado, mais traumas.
Desde os quatro anos , ( eu era bonitinha) eu cantava , dançava e participava de todos os ensaios para as festividades , que as " Santas Freiras" cobravam ingresso dos alunos para assistir as apresentações. Nunca fui convidada a me apresentar , apesar de me esmerar em tudo que fazia, assim foi aos 4 anos, aos 5, aos 6, aos 7 e nunca,nunca mesmo cantei um só refrão ,jamais dancei nas pontas dos pés ou em outro tipo de dancinhas próprias da idade. Com o tempo e a ingenuidade da minha mãe fui acreditando que eu era um verdadeiro desastre cantando ou dançando. A mágoa calando fundo, mas o esforço da minha mãe era imenso, ela era linda e trabalhava como tecelã para pagar o colégio e não ver a filha exposta ao que posso chamar de AFRONTA MORAL INJURIA.
Naquele tempo as ditas cujas beneditinas, reservavam o horário da manhã para quem não podia pagar e a série a que pertenciam eram marcadas por botões amarelos.
No período vespertino, aqueles que pagavam em dia usavam botões vermelhos.
Em qualquer festividade da escola se um grupinho de meninas de botões vermelhos se aproximava de um banco do jardim em que estavam meninas iguais a nós, portando os botões amarelos, estas eram obrigadas a levantar. Eu não tinha noção, era pura, mas aquilo me incomodava,pois eu não podia nem conversar com a minha vizinha que tinha o botão amarelo.
O tempo passou e eu segui acreditando que era um fiasco cantando, nem na igreja tinha a petulância de cantar junto. Isto tem 52 anos.
Resolvi acabar com os demônios que devoram minha alma, quero ser livre e, portanto matriculei-me numa escola de canto, não sem antes explicar ao professor ( Prof. Zack )toda a minha certeza da desafinação , da falta de ouvido, etc. E ele me disse que se eu era assim teria que me empenhar e muito para conseguir alguma coisa. Topei a parada. Eu e meus demônios...Descobri quer não sou desafinada e até tenho um timbre bonito.Estou só começando, mas volta e meia me vem a cabeça aquela madrezinha...que nunca me colocou porque eu era POBRE.OU MELHOR NÃO PERTENCIA A NATA.,porém tinha notas muito melhores que as delas.
E mexendo nesse vespeiro que são os traumas de infância relembrei de outro que ainda me machuca e que quero E VOU EXPUGAR PARA SEMPRE DA MINHA VIDA.
Hoje adoro amarelo e uso muito pouco vermelho, que estas madres recebam o que merecem, porque o que me importa agora cantar.
AH! Se elas fossem vivas!!!