segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Ayrton , preciso de você , do seu colo

Hoje preciso falar do Ayrton, preciso falar com o Ayrton, preciso do abraço afetuoso e amigo, preciso daquele amor ágape que iluminava minha vida e fazia com que ela tivesse sentido.
Nos braços dele descobri o amor pleno, sem restrições, sem apegos e melindres, éramos mais que marido e mulher, éramos amigos de fato. Ele conhecia todas as minhas mágoas, lembranças dolorosas do passado, um amor mal resolvido por conta de preconceito infundado (não dá minha parte).
Conversávamos sobre tudo, sobre seus amores, sobre suas dores, sobre o que realmente sentimos por outras pessoas e sentíamos entre nós.
Havia tamanha confiança, recíproca, que éramos realmente um. Conhecemos-nos pela Internet, depois pessoalmente e a partir dessa data nunca mais nos deixamos.
Onze meses depois dividíamos o mesmo teto e todas as nossas alegrias e frustrações, bem como os nossos gostos pela boemia. Realmente encontrei meu par.
Com ele falava com tranqüilidade sobre tudo e sobre todos, não havia nada que escondêssemos do outro por falsos moralismos ou desejo de ser alguém sem defeitos.
Nove meses após nossa união ele ficou doente, foram dez cirurgias e a amputação de suas pernas. Não deixamos de viver. Estava ali, ao lado de um HOMEM, que tinha um cérebro maravilhoso, suas pernas apenas eram veículos de transporte que uma cadeira de rodas resolveu.
Até uma ex-noiva dele com quem sonhou e foi tomado de sobressalto, ajudei-o a encontrar o telefone da irmã dela para que pudesse ter notícias. Foi mágico este momento, ali estava provado que nos unia era maior que a palavra matrimônio.
Foram sete anos de luta, que nos união mais e mais. Eu admirava aquela inteligência brilhante, aquela cultura invejável, aquele senso de humor que tornava nossas vidas completas. Ele me aconselhava, mostrava-me outro enfoque de cada situação que vivi e deixou marcas, descendente de suíços e alemães tinha outra visão de mundo.
Sua formação acadêmica, formado em Pedagogia com especialização em Sociologia Política, a especialização em Ciências biológicas para ensinar, o curso de Psicologia Clinica abortado no quarto semestre frente às dificuldades em conciliar sua vida de diretor de escola em Sorocaba e o Curso noturno na PUC em São Paulo (naquele tempo não havia a Castelo Branco) O curso de Direito, terminado e exercido. Sua época de jornalista nos tempos da faculdade. Era um homem de um repertório fantástico.
O gosto musical, o requinte, a magia que existia naqueles olhos azuis, o carinho por mim, Deus foi excepcional para comigo, pedi a ele quando fiquei só, alguém que se preenche a minha vida, na verdade fiz uma listinha dos atributos desejados e posso dizer: DEUS FOI MUITO ALÉM DO QUE PEDI.DEU-ME MUITO MAIS.
E olhe que carreguei nas tintas ao listar como eu queria alguém. Ele foi exótico e surpreendeu-me. Deu-me muito mais do que merecia e posso afirmar que fui exigente.
Ele se foi, um leve AVC que se complicou o levou desta terra para o andar de cima.
Sinto uma saudade, um vazio, uma vontade de chorar e choro mesmo.
Tenho 59 anos, mas sei que tenho que continuar vivendo, afinal a minha alegria, dizem que é meu diferencial, foi uma das coisas que o cativou.
Ele era quinze anos mais velho que eu, viveu intensamente sua vida,eu não , então me dizia que era para eu viver e que um dia nos encontraríamos novamente.
Estou tentando, voltei ao grupo de seresteiros do qual fazíamos partes e quanto choro ao ouvir as músicas que ele gostava.
Tenho a nítida impressão que ele me empurra para a vida, para viver o tempo que ficamos reclusos pela saúde dele e depois pela minha.
Faltam dois Herceptins e acabo o tratamento contra o câncer de mama, até agora pelos exames estou curada. Depois de 15 de outubro que será a prova dos nove...
Até lá e depois o que faço?
Preciso do seu abraço amigo, preciso do seu encorajamento,preciso de você, mas você está em outra dimensão.
Por favor, amor, manda um anjo me orientar, dá-me força para continuar, é lógico que eu te amo, mas á vida está aí e você queria que eu vivesse plenamente. Tenho medos, angústias e uma enorme solidão
Queria lhe dizer, Meu Ayrton que a música que casa completamente com o que sinto é:
Contigo aprendi, do Manzanero que ouço na voz da Gal.Não quero entrar em depressão, mas preciso de um anjo que me instrua e não me deixe cair em ciladas , afinal eu tenho seu nome para honrar e o dos meus filhos.
Eu te amo.
Lúcia

Como é duro perder os que amamos

Apesar de só podermos ter uma certeza, que a morte é inevitável e não discrimina ninguém, apesar de conhecer que é apenas uma mudança de nível, apesar de crer que a alma não morre. Apesar de tudo, o racional sabe o coração parece não querer entender.
Como dói. Este ano para mim foi um ano de perdas.
Esta última semana foi marcante e trágica, perdi duas pessoas das quais gostava muito, Ângela Martins Vieira e Marco Flávio da Costa Chaves. Ela no dia 23 , ele no dia 28. E os conheci no mesmo ambiente, na escola em que trabalhava Os Marquinhos meu aluno, na sexta e sétima série, a Ângela (multifuncional) ministrou a nós professores de Português um curso rápido e intensivo de jornalismo, ou melhor, de como se faz uma jornal.
A finalidade do curso era que nós soubéssemos como se faz num jornal de verdade, para que criássemos um jornal com os alunos. Como aprendemos e quanto aprendeu a gostar dela, da sua maneira doce e da sua entrega. Ela nos conquistou e nos fez admirá-la, Ângela era conteúdo, emoção, razão, sensibilidade, honestidade. Foi alguém que valeu à pena conhecer. O tempo pode afastar as pessoas, mas Deus nos permite reencontrar para pelo menos um abraço gostoso e sincero ser trocado. Eu a vi pela última vez há uns cinco meses. A conversa foi curta, porém profunda. Foi providencial e abençoada. Hoje não a temos mais entre nós, mas aquele abraço, ninguém me tira.
Os Marquinhos eram aluno, gostava muito dele por sua maneira gentil e doce, um dengo. Era amigo dos seus amigos, jamais usou de arrogância para com os professores, o que infelizmente é comum àqueles que têm posses e sobrenomes , numa escola particular.
Ele era um diferencial, comportava-se como um Lorde; era generoso, sabia ouvir e mesmo diante de uma entediante aula de análise sintática, tinha sempre um sorriso e uma palavra de carinho para comigo, acredito que para todos os outros professores.
Quando soube de sua partida , quando vi que ele bateu o carro para não atropelar dois estranhos que pularam uma mureta e adentraram a pista , não estranhei. Ele realmente se preocupava com os outros.
Nunca me digam que foi imprudência, imperícia, ou o acaso, não. Ele deu a vida dele para não tirar a dos outros. Era bem dele isto.
Sei que á vida continua , mas estou mais pobre, mais triste .
Não adianta nada o conhecimento que tenho , quando as lágrimas teimam em rolar , quando o coração se aperta em um nó sem fim.
Gostaria de ter tido a oportunidade de um último abraço, mas fica para mim o seu sorriso. Não é o primeiro ex-aluno que perco, mas nunca me acostumarei à idéia.
Tenho feito preces , pedindo por eles e pelos familiares , mas a dor não passa.
Sinto-me só.Pequenina, impotente , arrasada.
É uma forma brutal de se perceber que perdemos tempo, que a vida nos dá chances de dizer que amamos e às vezes não fazemos.
De forma inglória , só queria dizer , Ângela e Marquinhos, amo vocês. Estejam em Deus.